sábado, 23 de outubro de 2010

Ping-Pong

Neta de “merceeiro”, confesso-me com uma “paixão” pelo comércio.
Comecei por vender bolachas, mais tarde vendi dinheiro, material desportivo e roupa. Hoje, tenho a enorme alegria de vender cultura. (Cada vez é maior o desafio!).
O comércio é, para quem gosta. É preciso ter “pica” que poderei “traduzir” por espírito de serviço e capacidade de surpreender os clientes, excedendo as suas expectativas.
Na minha empresa, muito simpaticamente, chamam-me o “dinossauro” do comércio.
É verdade, já lá vão 17 anitos…

Nestes tempos de oportunidades o que ajudará o comércio a ter sucesso é, sem dúvida, a excelência do atendimento. Só deste modo é possível ter uma relação “afectiva” com os clientes e criar vínculos. Cada vez mais os produtos são os mesmos (ou muito parecidos) e os preços estão ajustados. A excelência do atendimento está principalmente dependente de factores comportamentais (soft skills) e não de conhecimentos técnicos (hard skills).

Eis o penoso atendimento num café da minha cidade (onde nunca mais voltarei). Entrei no café e, durante uns minutos, pensei: “Olá, estou aqui e sou cliente. Venho ajudar a pagar o seu ordenado”. A única funcionária que se avistava estava a ler, junto da caixa registadora. Quando finalmente se interessou por mim, eu disse: “Muito bom dia, um sumo de laranja natural e…”, não foi possível dizer mais nada porque a senhora virou costas e foi-se embora. “O que se passa?”, pensei. Percebi depois que a senhora tinha ido fazer o sumo e, voltou dai a pouco com o meu miminho matinal, num copo de papel. Regra de Ouro: pelo preço que se paga, um sumo de laranja natural “merece” ser servido num copo de vidro! “…um croissant com fiambre sem manteiga”, continuei eu sem, de novo, ter tempo para acabar a frase. (Gostava de ter pedido por favor). Desta vez já não me surpreendi: “a senhora foi preparar o croissant”, pensei. Quando voltou “disparou” a pergunta ameaçadora: “Mais nada?!”. Respirei fundo e limitei-me a sorrir. “É verdade, mais nada”. Não sei o que estava à espera que pedisse mais. Eram 10 horas da manhã de uma segunda-feira e eu queria apenas tomar um pequeno-almoço tranquilo. Bastava aquela senhora ter perguntado: “Deseja mais alguma coisa?” para este texto não ter sido escrito. Agradeci, bebi o meu sumo e fui comer o croissant para a rua. A minha paciência estava esgotada e não tinha vontade de ficar nem mais um minuto naquele café.

A semana estava a começar e da minha cabeça não saia um simpático encontro daquela 2ª feira, daqueles que me enchem o coração de orgulho: “Oh Dra., gostei de a ver e quero que venha para aqui para o pé da gente”. Estas foram as generosas palavras do pai de um amigo que reclama o meu regresso a Coimbra. Emocionada recordei as “tardadas” de ping-pong que joguei na sua casa, nos tempos de aluna da Brotero…

sábado, 9 de outubro de 2010

(Não) Sou Estrangeira

Tenho “ar de estrangeira” e, nesta altura do ano, muita gente fala comigo em inglês. É muito divertido!

Em criança, no colégio gozavam comigo por ter o cabelo tão claro. Em casa, perguntava à minha Mãe porque é que era tão diferente das minhas manas. A Rosarinho dava a melhor resposta possível: um sorriso! Os anos foram passando e eu cada vez me divirto mais por ter este “ar estrangeiro”.

Há dias, quando pedia o meu jantar num restaurante do Chiado, escutei: “Como a senhora fala pouco vi logo que era estrangeira”. O “meu” cozinheiro estava muito enganado. Para (não) ajudar à “festa”, no momento de pagar mostrei um daqueles horríveis (?!) cartões de pontos que pretendem fidelizar clientes. A exclamação que escutei foi imediata e, de novo, surpreendente: “Bem me parecia que a senhora apesar de portuguesa não vem a Portugal há muito tempo!”. O meu interlocutor chegou a esta “brilhante” conclusão porque o meu cartão de pontos já não está em vigor há anos. Não valia a pena contrariar: rendi-me! Seria difícil explicar que aquele era apenas mais um cartão perdido na minha carteira. Seria difícil explicar que sou apenas mais uma cliente que o “cartão mágico” não ajudou a fidelizar. Seria difícil explicar que apenas fui aquele restaurante porque o meu preferido estava fechado…

Neste meu verão com uma passagem por Espanha, num bar de praia na companhia de uma amiga sueca, pedi um café no meu melhor “castellano” (muito curioso porque tem uma mistura de sotaque português e catalão). Para minha surpresa, a simpática senhora respondeu-me em inglês. Eu, desiludida com os meus dotes linguísticos, disse-lhe: “Em inglês, não. Eu sou portuguesa e com uma portuguesa não se fala em inglês”. “É portuguesa? Não parece nada”, escutei. Para tornar este episódio ainda mais devastador para o meu ego, tenho que confessar que a minha amiga sueca fez o seu pedido antes de mim, em “castellano” e a senhora não lhe falou em inglês. “Afinal quem é que é sueca aqui?”, perguntei à minha amiga depois da minha derrota.

O episódio mais divertido acontece-me sempre na Alemanha. Quando, em trabalho, vou a este pais, antes de ter a oportunidade de falar algo em inglês, toda a gente fala comigo em alemão. Para me “defender”, aprendi a dizer no meu alemão possível: “ich bin ausländerin” (Sou estrangeira).